Projeto leva MPB para as escolas
Rede estadual do Rio terá aulas sobre ritmos tradicionais brasileiros
Roberta Pennafort | Estado de São Paulo
Noel Rosa dizia que "ninguém aprende samba no colégio". Mas a partir de 2010 alunos da rede estadual do Rio terão aulas não apenas sobre samba, como também choro, ritmos nordestinos, bossa nova e canções da chamada era dos festivais.
O projeto de ensinar história da MPB nas unidades da rede tem como meta enriquecer a cultura musical dos adolescentes, que ouvem quase exclusivamente funk.
Outro objetivo é relacionar o que é dito nas letras com conteúdos de disciplinas como história, língua portuguesa e literatura. "As marchinhas de carnaval eram crônicas de uma época, assim como as músicas de protesto podem ser usadas para falar da ditadura. Os jovens têm de saber que a música não nasceu com a Tati Quebra-Barraco", explica o pesquisador Ricardo Cravo Albin. O projeto foi desenvolvido por dois professores do Departamento de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fred Góes e Flora de Paoli, sob coordenação do Instituto Cultural Cravo Albin, dedicado à preservação da memória da MPB.
A Secretaria Estadual da Educação não vai excluir o funk e o hip hop das aulas. Pelo contrário: recentemente, realizou um festival que teve como mote os 40 anos do funk carioca. Para 2010, a secretária, Tereza Porto, pretende agregar ao projeto um módulo sobre o gênero preferido da maioria do 1,5 milhão de estudantes, pertencentes às classes C, D e E.
"Os alunos não conhecem nada. Queremos resgatar a história da MPB. Para eles, é interessante saber, por exemplo, que o que o funk sofre hoje já aconteceu com a Chiquinha Gonzaga", diz a secretária, referindo-se ao preconceito vivido pela compositora na virada do século 20.
Está sendo investido pouco mais de R$ 1 milhão. As aulas serão disponibilizadas a alunos do ensino médio (e também aos do segundo segmento do ensino fundamental, conforme decisão dos diretores) e não farão parte do currículo obrigatório. Cada diretor de escola indicará dois professores para serem treinados pelo Instituto Cravo Albin, que fornecerá os kits com DVDs, CDs e cartazes.
Os alunos terão a oportunidade de descobrir artistas de papel fundamental na MPB, dos mais diferentes gêneros - Pixinguinha, Cartola, Luiz Gonzaga, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, entre muitos outros - e de aprender como suas obras ajudaram na construção da identidade nacional. "A escola tem que voltar a ter ibope. O currículo é muito equivocado, precisa ser mais aderente à realidade do mundo", diz a secretária.
O projeto antecipa a aplicação da lei 11.769/2008, que insere o ensino de música na educação básica a partir de 2011. Várias redes estaduais e municipais já desenvolvem programas de educação musical. Em Franca (interior de São Paulo), há três anos todos os alunos do ensino infantil e fundamental assistem a uma aula de música por semana, dadas por
músicos.
Por: Roberta Pennafort | O Estado de São Paulo
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